quarta-feira, 4 de maio de 2016

Purgatório - Dante Alighieri


Há alguns dias atrás resolvi retomar uma das minhas paixões de infância: assistir Cavaleiros do Zodíaco. Este desenho me marcou tanto que, eu me pegava lembrando de episódios inteiros, principalmente a saga das 12 casas, para a geração Pokémon, Dragon Ball e todos os outros que nunca assistiram este clássico dos anos 90 esclareço: os Cavaleiros do Zodíaco é um anime, baseado em uma série japonesa de mangá. A história mostra guerreiros místicos (denominados Cavaleiros) que lutam pela proteção da deusa Atena, deusa da justiça e sabedoria. O que me fascinava tanto era o caldeirão de informações sobre mitologia grega e, apesar de ser considerado um desenho de "menino", devido às inúmeras cenas de sangue e luta, a história dos cavaleiros da esperança me atraia muito. Voltando ao assunto iniciado, como eu me lembrava de tudo a respeito do anime, resolvi portanto, assistir as sagas que eu nunca vi quando criança. E então, surpresa! na temporada denominada Saga Hades - Capítulo Inferno, vi todos os episódios ricamente detalhados a cerca do submundo, reino de Hades para os gregos, reino de Lúcifer para os cristãos.


O que tudo isso tem a ver com um livro de séculos atrás da cultura italiana?
Não estamos falando dos anos 90?
Animes, coisas modernas?
Pois eu lhe digo que, tem tudo a ver.
Vou fazer um pequeno resumé: os cavaleiros do zodíaco decidem descer ao submundo (o mundo dos mortos) para ajudar a deusa Atena a derrotar Hades e assim restabelecer a paz e a justiça no mundo superior (o mundo dos vivos). E este lugar, conhecido também como inferno, é dividido em vários níveis ou prisões, onde as almas danadas pagam suas penas de acordo com o pecado cometido na terra e essas penas são a descrição exata das relatadas por Dante em seu primeiro livro integrante da Divina Comédia: Inferno.
O que quero dizer com isto tudo é que, uma grande obra, um clássico, ele consegue ultrapassar gerações e influenciar coisas extremamente modernas como um anime japonês (tão na moda atualmente) e você pode mostrar a um adolescente que, não, um clássico não é necessariamente chato, enfadonho quando eu aprendo a ler, apreciar o seu significado e assim abrir meus olhos da cegueira ambulante que povoa nosso mundo literário. É legal ler Harry Potter? claro mas, nada se compara a beleza de ler um Machado de Assis, um  Dostoiévski, um Alighieri.
Até agora falei sobre o primeiro livro de Dante, Inferno, considerado por muitos a parte mais interessante do universo Dantesco, porém, eu concordo com o Prefácio de Otto Maria Carpeaux, que "nesta informação se esconde um dos julgamentos mais graves que já se pronunciaram contra a humanidade". Inferno é interessantíssimo, ele reflete o medo que temos de assumirmos a culpa e pagarmos por todos os nossos erros. O violento, o chocante, sempre deu mais "audiência", desde tempos mais remotos mas, imaginá-lo sem Purgatório e Paraíso é como imaginar uma pessoa com visão mas, sem audição e fala. É incompleta. E ao contrário de muitos, não acho que Purgatório seja uma repetição sem sal de Inferno, pelo contrário, é de uma sutileza tão marcante que chega a ser sublime. Ali estão, pagando suas penas, as almas que, no último momento mostraram arrependimento do que fizeram, ali está a esperança da misericórdia e do perdão divino. Ouso dizer que, se Inferno é mais interessante que o Purgatório, com certeza, Purgatório é mais bonito que Inferno, tanto no sentido literal quanto no sentido poético ou figurativo, é mais humano pois, se vocês lembram do conto de Pandora, a mulher que abriu a caixa que continha todo o mal do mundo, mal este que se espalhou e dominou toda a Terra, sobrando na caixa apenas a esperança, que virou o presente de Pandora para a humanidade, há de convir que não há nada mais humano do que em meio a tanto terror existir lá no meio, o último sentimento que morre, a esperança.



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